segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Exemplos de utilização da ferramenta 5w2h

Já falamos aqui no blog sobre a ferramenta 5w2h e sua importância para o planejamento de atividades. Devido a importância dessa ferramenta resolvemos fazer um segundo texto, complementando o primeiro, dando dicas de como utilizar o 5w2h. Citando alguns exemplos de situações em que o emprego da ferramenta pode ser muito útil para você e sua empresa. Afinal, nem só no mundo dos negócios as ferramentas de gestão são importantes, certo?

Segue alguns exemplos de utilização da ferramenta 5w2h:

1 – Programando uma viagem
Como toda atividade que exige um planejamento prévio, a programação de uma viagem precisa ser muito bem pensada e esquematizada para não haver imprevistos na hora do seu momento de lazer mais esperado do ano. Por isso, a utilização do 5w2h pode ser uma excelente alternativa para auxiliá-lo no planejamento de sua viagem de férias ou de fim de ano, por exemplo.
Abaixo, mostraremos um exemplo de planilha 5w2h pronta, detalhando todos os aspectos do planejamento de uma viagem à Salvador para o natal e reveillon. Confira:
(Clique na imagem para ampliar)

É importante ressaltar que a viagem mencionada é apenas um exemplo fictício, sem qualquer compromisso em ser fiel a lugares e preços da viagem. É apenas para que você tenha uma idéia de como ficaria um planejamento de viagem com o 5w2h. Claro que você pode ser mais específico com suas atividades, mas desta forma já dá pra visualizar legal como será a viagem.

2 – Fazendo planejamento de mídias sociais
Outra utilização do 5w2h é para o planejamento de ações em mídias sociais, muito utilizado nos dias de hoje. Abaixo segue o esquema elaborado pelo pessoal do blog Novo Setor para uma Escola de Marketing em Fortaleza, que realizará sorteios pelo Twitter a fim de angariar novos seguidores. A idéia é aumentar o número de pessoas que acessa o conteúdo da Escola. Confira:
(Clique na imagem para ampliar)

No planejamento acima, as tarefas foram melhor descritas e analisadas, com um texto um pouco maior, porém mais bem explicada. A quantidade de palavras utilizada varia de acordo com a necessidade de cada um, não há regra.
3 – Planejamento de redução de custos de uma empresa
5w2h é muito utilizado também para planejar mudanças na empresa, sejam elas estruturais, de pessoal ou mesmo financeiras. Na verdade esta é a função principal da ferramenta, que posteriormente passou a ser usada fora das empresas também. O exemplo abaixo contempla uma situação em que a empresa precisa reduzir seus gastos com o consumo de água em até 35%. Confira as etapas da mudança:
(Clique na imagem para ampliar)

Outros exemplos de utilização do 5w2h

Além dos 3 exemplos citados acima, você também pode utilizar o 5w2h em muitas outras atividades. Abaixo citaremos alguns exemplos:
  • Tornar a empresa mais lucrativa;
  • Realizar um planejamento escolar;
  • Planejar a manutenção de máquinas em uma indústria;
  • Definir a estratégia para um processo de seleção de pessoal;
  • Elevar a satisfação de alunos com determinado curso;
  • Aumento da carteira de clientes de uma empresa.
Como puderam ver, o funcionamento da ferramenta é bem simples e pode ser manuseado por qualquer pessoa que tenha mínimos conhecimentos de Excel, por exemplo. E são inúmeras as formas de se utilizar a ferramenta 5w2h para realizar planejamentos de todo tipo. Me arrisco a dizer que ela pode ser usada para qualquer tipo de organização e planejamento de atividades, basta que você analise os elementos envolvidos na análise que precisa fazer, alocando cada informação no campo correto e criando uma mentalidade de acompanhamento constante daquilo que foi mapeado no 5w2h.
Crie uma planilha 5w2h na sua casa e experimente o planejamento orientado por esta ferramenta.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O que é o 5W2H e como ele é utilizado?

Hoje falaremos sobre a ferramenta 5W2H. Você sabe o que é e para que serve? Então fique de olho!

O que é o 5W2H?

O 5W2H, basicamente, é um checklist de determinadas atividades que precisam ser desenvolvidas com o máximo de clareza possível por parte dos colaboradores  da empresa. Ele funciona como um mapeamento destas atividades, onde ficará estabelecido o que será feito, quem fará o quê, em qual período de tempo, em qual área da empresa e todos os motivos pelos quais esta atividade deve ser feita. Em um segundo momento, deverá figurar nesta tabela (sim, você fará isto em uma tabela) como será feita esta atividade e quanto custará aos cofres da empresa tal processo.
Esta ferramenta é extremamente útil para as empresas, uma vez que elimina por completo qualquer dúvida que possa surgir sobre um processo ou sua atividade. Em um meio ágil e competitivo como é o ambiente corporativo, a ausência de dúvidas agiliza e muito as atividades a serem desenvolvidas por colaboradores de setores ou áreas diferentes. afinal, um erro na transmissão de informações pode acarretar diversos prejuízos à sua empresa, por isso é preciso ficar atento à essas questões decisivas, e o 5W2H é excelente neste quesito!

Por que 5W2H?

O nome desta ferramenta foi assim estabelecido por juntar as primeiras letras dos nomes (em inglês) das diretrizes utilizadas neste processo. Abaixo você pode ver cada uma delas e o que elas representam:
WHAT – O QUE SERÁ FEITO (ETAPAS)
WHY – POR QUE SERÁ FEITO (JUSTIFICATIVA)
WHERE – ONDE SERÁ FEITO (LOCAL)
WHEN – QUANDO SERÁ FEITO (TEMPO)
WHO – POR QUEM SERÁ FEITO (RESPONSABILIDADE)
HOW – COMO SERÁ FEITO (MÉTODO)
HOW MUCH – QUANTO CUSTARÁ FAZER (CUSTO)
Há ainda outros 2 tipos de nomenclatura para esta ferramenta, o 5W1H (onde exlui-se o “H” referente ao “How much”) e o mais recente 5W3H (onde inclui-se o “H” referente ao “How many”, ou Quantos). Todas elas podem ser utilizadas perfeitamente dependendo da necessidade do gestor, respeitando sempre as características individuais.

Como utilizar?

Antes de utilizar o 5W2H é preciso que você estabeleça uma estratégia de ação para identificação e proposição de soluções de determinados problemas que queira sanar. Para isso pode-se utilizar de brainstorm para se chegar a um ponto comum. É preciso também ter em conta os seguintes pontos:
  • Tenha certeza de estar implementando ações sobre as causas do problema, e não sobre seus efeitos;
  • Tenha certeza que suas ações não tenham qualquer efeito colateral, caso contrário deverá tomar outras ações para eliminá-los;
  • É preciso propor diferentes soluções para os problemas analisados, certificando-se dos custos aplicados e da real eficácia de tais soluções.

Me dá um exemplo?

Sim, claro! Ao planejar determinada atividade gerencial, você deve responder às  7 perguntas citadas acima com clareza e objetividade. Logo após, você deverá elaborar uma tabela explicativa sobre tudo o que foi planejado. Abaixo segue o esboço bem simples de uma planilha de 5W2H. Ela pode ser configurada da maneira que o utilizador achar melhor (linhas, colunas, cores etc). Mas sempre seguindo o modelo de especificar, ao máximo, todas as etapas do processo. Caso contrário o 5W2H perde a sua função.
                                 (Clique na imagem para ampliar)
A ferramenta 5w2h é uma das mais fáceis de ser implementada e traz grandes benefícios para os gestores e suas atividades organizacionais. Por isso, não deixe de utilizá-la em seu dia-a-dia empresarial. Você só tem a ganhar!
Fonte: sobre administração

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Para ter qualidade nos processos, é preciso planejar

Muitas vezes, no decorrer de nosso dia, fazemos muitos planejamentos sem nem mesmo perceber. Nas atividades que julgamos mais simples de se fazer, estamos planejando. Na rotina do dia-a-dia, quando acordamos, lanchamos, nos deslocamos para o trabalho e outras atividades corriqueiras, estamos executando um planejamento previamente estabelecido.


Estas atividades que realizamos são caracterizadas como processos. E para que tudo ocorra como esperado, além planejar corretamente, precisamos também conhecer muito bem estas atividades: sua finalidade, tempo de duração, custo, objetivo etc. Analisando estes processos sob a ótica do mundo corporativo,  temos o que chamamos de mapeamento de processos.
E no sistema de Gestão da Qualidade, as atividades são planejadas de forma sistemática para garantir que os processos fluam corretamente e de forma constante, a fim de atingir os objetivos pré-estabelecidos no planejamento inicial.
Abaixo comentamos sucintamente alguns dos tipos de planejamento mais conhecidos, acompanhe:

Planejamento de Ações Preventivas

Planejamento realizado para antecipar-se aos problemas que venham a surgir durante a execução das atividades. Evita que as não conformidades aconteçam. É importante uma vez que o tratamento de problemas envolve um custo bem maior do processo. Assim, prevendo os problemas é mais fácil evitá-los, evitando também que os custos do projeto sejam maiores do que o planejado.

Planejamento de Melhoria de Processos

O planejamento de melhoria nos processos permite detalhar as etapas que envolvem o processo, permitindo a identificação do local exato onde ocorrem as falhas, onde precisa ser melhorado e o que precisa ser mantido. Desta forma, o gestor é capaz de administrar melhor os seus processos, agindo exatamente onde é necessário.

Planejamento de Ações corretivas

Planejando ações corretivas é possível programar-se para eliminar de forma definitiva as causas das não conformidades. Estas ações são implementadas para corrigir algum defeito do planejamento ou mesmo das atividades. É fundamental para que o objeto do processo chegue ao seu final da forma como foi estabelecido, sem erros.
Assim, o ato de planejar, tanto no lado pessoal, quanto no profissional, permite um desenvolvimento contínuo dos processos, de forma hábil e organizada. Planejando e conhecendo os processos e suas variáveis, os resultados esperados serão mais favoráveis e contínuos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Movimentos Sociais

Os Movimentos sociais são as expressões da organização da sociedade civil. Agem de forma coletiva como resistência à exclusão e luta pela inclusão social. É nas ações destes que se apresentam as demandas sociais que determinada classe social enfrenta, se materializando em atividades de manifestações como ocupações e passeatas em ruas provocando uma mobilização social, despertando uma sensibilização na consciência dos demais indivíduos como diz Maria Glória Gohn: “ao realizar essas ações, projetam em seus participantes sentimentos de pertencimento social. Aqueles que eram excluídos passam a se sentir incluídos em algum tipo de ação de um grupo ativo” (2011, p. 336). Para André Frank e Marta Fuentes os Movimentos Sociais se baseiam “num sentimento de moralidade e (in)justiça e num poder social baseado na mobilização social contra as privações (exclusões) e pela sobrevivência e identidade” (1989, p. 19)[1]. É com uma vigorosa capacidade de mobilização que “[...] os sindicatos, as ONGs, e os diversos movimentos de luta conquistaram importantes direitos de cidadania ao longo da história brasileira” (LAMBERTUCCI, 2009, p. 82).
            É preciso fazer uma distinção entre movimentos sociais e protestos sociais. O simples fato de ir às ruas protestar contra a corrupção, por exemplo, não caracteriza um movimento social. Uma ação esporádica, ainda que mobilize um grande número de manifestantes, pode ter em seu coletivo representantes de movimentos sociais e populares mas não caracterizam um movimento social como tal. Tais protestos e mobilização podem ser frutos da articulação de atores de movimentos sociais, ONG’s, tanto quanto podem incluir cidadãos comuns que não estão necessariamente ligados a movimentos organizados como tais.

Alguns exemplos ilustram essa forma de organização, incluindo vários setores de participantes: a Marcha Nacional pela Reforma Agrária, de Goiânia a Brasília (maio de 2005), foi organizada por articulações de base como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Grito dos Excluídos e o próprio MST e por outras, transnacionais, como a Via Campesina. Também se realizaram articulações com universidades, comunidades, igrejas, através do encaminhamento de debates prévios à marcha. A Parada do Orgulho Gay tem aumentado expressivamente a cada ano, desde seu início em 1995 no Rio de Janeiro, fortalecendo-se através de redes nacionais, como a ABGLT, de grupos locais e simpatizantes. A Marcha da Reforma Urbana, em Brasília (outubro de 2005), resultou não só da articulação de organizações de base urbana (Sem Teto e outras), mas também de uma integração mais ampla com a Plataforma Brasileira de Ação Global contra a Pobreza. A Marcha Mundial das Mulheres tem sido integrada por organizações civis de todos os continentes (SCHERER-WARREN, 2006, p. 112).

            Para haver esses movimentos sociais os motivos são os mais diversos, em geral são frutos da insatisfação popular frente a má gestão dos líderes políticos então eleitos pelo povo, que reivindicam  ações efetivas para os quais foram eleitos, em áreas como Saúde, Educação, Meio Ambiente, habitação, entre outras demandas não atendidas, fomentando indignação no povo e levando este a realizar movimentos e manifestações populares.
            Maria Glória Gohn (2014) define as características de um movimento social: possui liderança, base, demanda, opositores e antagonistas, conflitos sociais, um projeto sociopolítico, entre outros. Ilse Scherer-Warren (2006) concorda com Maria Glória ao definir em sentido amplo os movimentos sociais em torno de uma identificação de sujeitos coletivos que possui adversários e opositores em torno de um projeto social. Veja-se por exemplo o Movimento Negro e Movimento Indígena, que une-se pela força de uma identidade étnica (negra ou índia) e combatem o adversário do colonialismo, racismo e expropriação, tendo como projeto de luta o reconhecimento de sua identidade, suas tradições, valores e até mesmo de manutenção de um território que vive sob constante ameaça de invasão (os quilombos no caso dos negros e a luta pela demarcação de terras indígenas).
            Delson Ferreira (2003) define os movimentos sociais a partir das ações de grupos organizados que objetivam determinados fins, ou seja, os movimentos sociais se definem por uma ação coletiva de um grupo organizado e que objetiva alcançar mudanças sociais por meio da luta política, em função de valores ideológicos compartilhados questionando uma determinada realidade que se caracteriza por algo impeditivo da realização dos anseios de tal movimento.
            Com a luta dos movimentos sociais ampliou-se o leque de atores sociais e surgiram novas facetas à cidadania com ênfase na responsabilidade dos cidadãos na elaboração de Políticas Públicas, com espaços criados institucionalmente para esta parceria entre Estado e sociedade civil, como é o caso, por exemplo, dos conselhos gestores de políticas públicas[2]. “Novos e antigos atores sociais fixarão suas metas na conquista de espaços na sociedade política, especialmente nas parcerias que se abrem entre governo e sociedade civil organizada, por meio de Políticas Públicas” (GOHN, 2014, p. 58). E como afirma Antonio Lambertucci – então secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República na época do governo Lula: “[...] as contribuições dos movimentos e organizações sociais impactam as políticas públicas e são garantias de execução [...] Isto significa uma mudança na relação com a sociedade civil e um autêntico reconhecimento do papel das entidades” (2009, p. 72). Antonio Lambertucci chama atenção ainda para o fato de como tais organizações e movimentos sociais constituem espaços de participação em uma grande rede entre indivíduos sendo através destas redes que “[...] os atores sociais formam opinião, se expressam, fazem sua vontade ganhar poder coletivo e, assim, interferem nos destinos do país” (2009, p. 82).
            Além disso, em tempos de tecnologia e cibercultura vale ressaltar também como nossa época é marcada pela comunicação em massa das redes sociais na internet, levando a ocorrência de marchas pelas ruas onde os manifestantes se mobilizam através de redes sociais, como o Movimento #VemPraRua ocorrido no Brasil em 2013 e outras manifestações ocorridas em vários países da Europa e da África[3]. Manifestações, marchas e ocupações que “[...] simbolizam uma nova forma de fazer política. Não a política partidária, oficial, mas a política no sentido dos gregos, do cidadão que se manifesta e discute na praça pública” (GOHN, 2014, p. 75). Estas novas formas de protestos com as novas TIC’s (Tecnologia de Informação e Comunicação) criaram o conceito de ciberativismo: uma forma de ativismo realizado através de tecnologias de informação e comunicação, principalmente através da internet. A utilização das informações por meio da Internet passou a ter maior visibilidade não só pelo baixo custo e eficácia na resposta a curto, médio e longo prazo pela comunidade virtual, como pela facilidade e velocidade com que as informações podem ir de um extremo a outro do planeta.
            Um exemplo claro disto é por meio da Comunidade Avaaz.org: o mundo em ação www.avaaz.org/po/index.php. Uma comunidade de mobilização on-line que encoraja as pessoas a criarem suas próprias campanhas e Petições Públicas que permite as pessoas iniciarem campanhas ao redor do mundo, usando o ciberespaço.


NOTA

Veja em nosso website a seção CiberDemocracia para aprofundar o debate sobre como a tecnologia tem influenciado hoje o Estado Democrático.
Você também pode encontrar em nosso website um artigo que fala sobre Os mecanismos de participação da sociedade no Congresso Nacional através da internet, que destaca, entre outras coisas, o uso a internet acessando as plataformas e-democracia e e-cidadania do Congresso Nacional (respectivamente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal)


O que as marchas, manifestações, ocupações e protestos que ocorreram ao longo de 2011, 2012 e 2013 têm em comum: São articuladas via redes sociais, internet e celulares; são compostas por manifestantes que não tem necessariamente uma Ideologia Política (a adesão é a uma causa, ou mais de uma, e não à Ideologia de um grupo) e não pertencem a um grupo específico (político ou não) e por isso não tem ligação Política partidária (mesmo que entre seus manifestantes haja pessoas ligadas a algum grupo político); as manifestações ocorrem à margem não apenas de partidos mas também de sindicatos; os protestos têm grande visibilidade na mídia em função do grande número de contingente que consegue agrupar; a Democracia é um dos eixos articuladores das marchas, em seu sentido e exercício pleno; são espaços de aprendizagem que se produzem a partir de uma vivência e experiência, no sentido de uma educação não formal; contribuem para a construção de uma nova cultura política (GOHN, 2014, p. 74-76)

            Para Maria Glória Gohn a cibercultura tem alterado as formas de mobilização social de várias maneiras, tanto no que diz respeito a “ação coletiva de movimentos alterglobalização” (GOHN, 2014, p. 19) que também é impulsionada pelas novas formas de comunicação e informação, quanto altera a forma de comunicação entre jovens manifestantes afirmando, inclusive, que “saber se comunicar on-line ganha status de ferramenta principal para articular as ações coletivas” (GOHN, 2014, p. 17). O desenvolvimento da internet tem alterado não apenas a forma de articulação dos protestos e movimentos sociais, como a própria concepção da democracia. “A Internet não permite somente comunicar mais, melhor e mais rápido; ela alarga formidavelmente o espaço público e transforma a própria natureza da democracia” (CARDON, 2012, p. 01). Além disso, “dominar códigos das novas tecnologias e participar das redes sociais passou a fazer parte do perfil desse ativista” (GOHN, 2014, p. 60).

Marchas, manifestações e ocupações na atualidade são promovidas por coletivos organizados que estruturam, convocam/convidam e organizam-se on-line, por meio das redes sociais [...] A sensibilização inicial é uma causa, vista como um problema social, como a corrupção de políticos, a ganância de banqueiros, o preconceito contra gays etc. (GOHN, 2014, p. 21 – grifos da autora).

            A internet tem alterado a forma de articulação dos movimentos sociais e de protestos individuais ou mesmo coletivos, mas que não se caracterizam, necessariamente, como um movimento social, como é o caso da blogueira cubana Yoani Sanchez, responsável pela manutenção do blog Generacion Y e do site Wikileaks.org.
            Yoani Sánchez é conhecida por seus artigos e críticas à situação social em Cuba do governo de Fidel Castro usando como um dos instrumentos de suas críticas o seu Blog. Há algumas controvérsias em torno da blogueira dependendo do ponto de vista com que se analisa a questão. Para alguns, Yoani é uma defensora da liberdade de expressão em um governo ditatorial, autoritário e repressivo. Para outros, ela não seria mais do que uma aliada dos E.U.A, suspeita de ligações com supostos agentes estrangeiros infiltrados em Cuba e com a CIA que o seu blog tem servido apenas para ataques contra o regime cubano. Qualquer que seja o caso, o fato é que a jornalista utiliza amplamente a rede mundial da internet para expor suas análises e críticas ao regime cubano, entre outras análises políticas e sociais.
            Já o Wikileaks.org pode ser considerado como uma organização transnacional sem fins lucrativos que publica, em seu website, postagens de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos que podem ser considerados até mesmo de segredo e segurança nacional.
            Ao longo do ano de 2010, WikiLeaks publicou grandes quantidades de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, com forte repercussão mundial. A publicação de um vídeo de um ataque aéreo em Bagdá é uma das mais notáveis publicações do site. Seu fundador, Julian Assange, publicou livros como “Cypherpunks – Liberdade e o futuro da Internet”, onde acusa governos de usarem a internet com objetivos de manutenção do poder político e econômico das nações e “Wikileaks – A guerra de Julian Assange contra os segredos de Estado”.
            Em todos estes casos,

[…] as novas mídias sociais, operadas on-line, com destaque para a mediação da internet, estão mudando a forma das pessoas se relacionarem, abrindo acesso a fontes de conhecimento e a formas de construir a Democracia, mas também fornecem todos os elementos para a construção de novas formas de Controle Social (GOHN, 2014, p. 50).

Referências Bibliográficas


ALBERTI, Verena; PEREIRA, Amilcar A. A defesa das cotas como estratégia política do movimento negro contemporâneoEstudos Históricos, Rio de Janeiro, nº 37, p. 143-166, jan./jun. 2006. Acesso em 01/09/2015.
ARROYO, Miguel G. Educação e exclusão da cidadania. In: BUFFA, Ester et al. Educação e cidadaniaQuem educa o cidadão? 5. ed. São Paulo: Cortez, 1995. p. 31-80.
AVRITZER, Leonardo. Modelos de Deliberação Democrática: uma análise do orçamento participativo no Brasil. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Democratizar a Democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
CARDON, Dominique. A democracia internet: promessas e limites. Tradução de Nina Vincent e Tiago Coutinho. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
EVANGELISTA, Carlos Augusto Valle. Direitos Indígenas: o debate na Constituinte de 1988. Dissertação (Mestrado em História Social). Programa de Pós-Graduação em História Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/IFICS, 2004. Acessado em 02/09/2015.
FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia – Dos Clássicos à Sociedade da Informação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
FRANK, André Gunder; FUENTES, Marta. Dez teses acerca dos movimentos sociaisLua Nova, São Paulo, nº 17, junho 1989. Acesso em 01/09/2015.
GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores e gestão públicaRevista Ciências Sociais Unisinos, Rio Grande do Sul, v. 42, n. 1, p. 5-11, jan/abr. 2006. Acesso em 01/09/2015.
____. Sociologia dos Movimentos Sociais. 2. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2014. (Questões da nossa época, 47).
____. Movimentos Sociais na ContemporaneidadeRevista Brasileira de Educação, Minas Gerais, v.16, n. 47, p. 333-351, maio/ago. 2011. Acesso em 01/09/2015.
LAMBERTUCCI, Antonio Roberto. A participação social no governo Lula. In: AVRITZER, Leonardo (org.). Experiências nacionais de participação social. São Paulo: Cortez, 2009. (Coleção Democracia Participativa)
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria MS no 545 de 20/05/93. Norma Operacional Básica 01/93. Brasília, DF: MS, 1993.
RIBEIRO, Marlene. Educação para a cidadania: questão colocada pelos movimentos sociais. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28, nº 2, p. 113-128, jul./dez., 2002. Acesso em 15/08/2015.
SCHERER-WARREN, Ilse. A política dos movimentos sociais para o mundo ruralEstudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, vol. 15, nº 1, p. 5-22, 2007. Acesso em 15/08/2015.
____. Das mobilizações às redes de movimentos sociaisSociedade e Estado, Brasília, v. 21, n. 1, p. 109-130, jan./abr. 2006. (DOSSIÊ: Movimentos Sociais). Acesso em 15/08/2015.
____. Redes de movimentos sociais. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2005.
____. Movimentos sociais no Brasil contemporâneoHistória: Debates e Tendências, vol. 7, nº 1, p. 9-21, jan./jun. 2008. Acesso em 15/08/2015.

[1] Esta é a segunda, das “dez teses” que os autores pretendem expor em seu artigo.
[2] Para aprofundar o debate sobre o papel dos Movimentos Sociais nos Conselhos Gestores de Políticas Públicas, ver artigo nesta mesma seção.
[3] Para uma análise mais detalha sobre o papel das novas tecnologias de informação e comunicação em alguns movimentos como a “Primavera Árabe” (ocorrida em vários países entre os anos de 2010 a 2012), as marchas e ocupações dos “Indignados na Europa” (ocorridas em vários países europeus entre 2011 e 2012) e em outros movimentos como o do Anonymous e Wikileads, ver o livro de Maria Glória Gohn (2014).

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Caracterização do vínculo empregatício: O pesadelo de todo empresário

É comum uma empresa que trabalha com diversos profissionais ser surpreendida com uma ação trabalhista, sendo condenada a pagar diferença de salário, férias, hora extra, 13°, FGTS, entre muitos outros.
É algo inesperado, pois em muitos casos, realiza-se um acordo em que se tem toda a certeza de que o prestador dos serviços trabalhará como autônomo, não havendo qualquer relação de emprego. E o pior, muitas vezes a Empresa é condenada, devendo pagar quantias enormes àquele reconhecido como empregado.
Para evitar tal aborrecimento, ou mesmo estar preparado ao contratar, o empresário precisa conhecer os requisitos básicos para a caracterização do status de empregado.
O art. 3º da CLT define o empregado como “toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”.
Assim, podemos extrair os requisitos:
  1. Pessoa Física (pessoalidade): O trabalhador deve ser pessoa física, trabalhando de forma pessoal;
  2. Não eventual (continuidade): Trabalha todos os dias, ou ao menos periodicamente, ou seja, não é um trabalhador que presta seus serviços apenas de vez em quando ou esporadicamente. Entende-se que trabalhar duas vezes por semana já pode caracterizar a continuidade;
  3. Dependência (subordinação): Existe uma hierarquia, ou seja, há ordens do empresário/empregador, inclusive com poder punitivo (como as advertências);
  4. Salário (onerosidade): Existe uma contraprestação, seja ela realizada (paga) em dinheiro ou em qualquer outra forma.
É claro que existe muita discussão, teses e flexibilização desses requisitos. Cada advogado construirá uma tese mirabolante para defender seus clientes. E muitos juízes aceitam.
Existe, por exemplo, a flexibilização do empregado autônomo. Muitas vezes, como camuflagem para descaracterizar o requisito da “Pessoa Física”, contrata-se o trabalhador como autônomo ou como Pessoa Jurídica. Porém, já é entendimento pacificado nos tribunais que, se o trabalhador possuir apenas esse trabalho, obedecendo ordens e possuindo os outros requisitos acima citados, o juiz deve desconsiderar a falsa autonomia e reconhecer o vínculo de emprego, dando ao empregado todos os direitos trabalhistas contidos na legislação trabalhista, mais diversas multas pelos atos passados.
Essa é a regra geral. Porém, além do empregado, existem outras formas de trabalho, como é o caso dos estagiários, dos voluntários, dos domésticos e dos próprios autônomos.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Políticas Públicas

A área de políticas públicas consolidou na última metade do século XX um corpo teórico próprio e um instrumental analítico voltado para a compreensão de fenômenos de natureza político-administrativa, assim como a medicina o faz com os problemas do organismo, a física com as leis do movimento etc.
            Os conhecimentos produzidos na área de políticas públicas vêm sendo largamente utilizado por pesquisadores, políticos e administradores que lidam com problemas públicos em diversos setores de intervenção e nas mais diferentes áreas: ciência política, sociologia, economia, administração pública, direito etc.[i] Vêm sendo utilizado tanto no que diz respeito à implementação e a avaliação das políticas públicas, quanto no que diz respeito a abordagens que destacam o papel das ideias e do conhecimento neste processo[ii]. E isso porque, segundo Faria (2003), as ideias e o conhecimento são cruciais para a compreensão e formação de uma agenda de implementação de políticas públicas – sobre esta “agenda” falaremos mais adiante no tópico: “ciclo de políticas públicas”.
            No âmbito da atuação profissional é crescente a demanda por profissionais técnicos na área de políticas públicas para trabalhar em organizações públicas, organizações do terceiro setor, órgãos internacionais, que apresentem (SECCHI, 2012):
  • Capacidade analítica refinada para entender fenômenos político-administrativos;
  • Criatividade para encontrar soluções dos problemas públicos que sejam tecnicamente eficientes e politicamente viáveis;
  • Conhecimento legal-institucional;
  • Habilidades de previsão e de antecipação, para vislumbrar possíveis efeitos das políticas públicas sobre comportamentos individuais e coletivos.

            Além desse perfil, um analista de políticas públicas precisa:
  • Entender o que originou um problema público;
  • Buscar soluções e alternativas para o problema;
  • Entender porque tais soluções ainda não foram implementadas;
  • Analisar quais obstáculos existem para a efetivação de certas medidas;
  • Analisar os possíveis resultados;
  • Avaliar os impactos de uma política pública;
  • Vislumbrar novas possibilidades que guiem a ação político-administrativa.

Não existe ainda consenso na literatura sobre o conceito ou definição de Políticas Públicas, por este ser ainda um campo recente da ciência política. Em geral, entende-se Políticas Públicas como instrumento ou conjunto de ação dos Governos (SOUZA, 2006), uma ação elaborada no sentido de enfrentar um problema público (SECCHI, 2012) ou um “[...] conjunto de decisões e ações destinadas à resolução de problemas políticos” (RUA, 1998, p. 731). Contudo, é preciso considerar que uma política pública pode ser elaborada pelo Estado ou por instituições privadas, desde que se refiram a “coisa pública”, por isso, as políticas públicas vão além das políticas governamentais, se considerarmos que o governo não é a única instituição a promover políticas públicas e, nesse caso, o que define uma política pública é o “problema público”.
            A partir da ideia de que as políticas públicas vão além das ações governamentais Volker Schneider (2005), Kenis e Schneider (1991) utilizam a expressão “redes de políticas públicas”, para sugerir a ideia de que a problematização, deliberação, implementação e processamento político de um problema público “não é mais um assunto exclusivo de uma hierarquia governamental e administrativa integrada, senão que se encontra em redes, nas quais estão envolvidas organizações tanto públicas quanto privadas” (SCHNEIDER, 2005, p. 37). É preciso pensar as políticas públicas a partir de parcerias público-privadas e até mesmo com redes de organizações internacionais e transnacionais, que possam cooperar com governos e organizações não governamentais para tentar resolver problemas globais[iii].
            E embora não haja dúvidas de que o aparelho Estatal se destaca em relação a outros atores no estabelecimento de políticas públicas,

O denominador mais comum de todas as análises de redes de políticas públicas é que a formulação de políticas públicas não é mais atribuída somente à ação do Estado enquanto ator singular e monolítico, mas resulta da interação de muitos atores distintos. A própria esfera estatal é entendida como um sistema de múltiplos atores (SCHNEIDER, 2005, p. 38).

            Schneider defende esse modelo de redes de políticas públicas partindo do princípio de que os recursos estatais são cada vez mais incapazes de garantir sozinhos os recursos necessários para a produção de políticas (formulação e implementação), o que pressupõe um processo de cooperação com atores não estatais e privados. Para dar conta de suas responsabilidades cada vez mais amplas e complexas, o Estado se vê obrigado a buscar recursos por meio de um processo de cooperação com outros atores sociais, incluindo aí a iniciativa privada.
            Além disso, Kenis e Schneider (1991) fazem uma análise de como a concepção de “redes de políticas públicas” se desenvolveu associada ao surgimento de “novas tecnologias do conhecimento”. Com a Era Digital há um forte potencial de alargamento da comunicação entre os diferentes atores, uma transposição de fronteiras transnacionais e expansão de atores corporativos.

Quem pensa em rede supera o pensamento convencional pelo menos em duas dimensões. Um teórico da rede pensa a sociedade enquanto uma imagem complexa, na qual – diferentemente do individualismo – a sociedade não aparece apenas como um agregado de indivíduos independentes, mas como um contexto integrado, sistêmico, que se constitui de muitos elementos (nós) e relações entre esses nós. O teórico da rede não capitula diante da realidade complexa, a qual ele se refere ao fim e ao cabo a um todo que não é passível de análise, em que tudo está conectado com tudo. Ele decompõe e disseca o emaranhado social e político, no qual ele destaca, por exemplo, posições relacionais e zonas de concentração na rede (SCHNEIDER, 2005, p. 52).

            Um outro ponto importante relacionado ao estudo das políticas públicas e que é ressaltado por Thomas Dye se refere a possibilidade de análise de uma política pública

[...] tanto da perspectiva da ação do governo (o que o governo faz) quanto da inação (o que o governo não faz) diante de algum problema [...] caso o governo escolha fazer algo perante algum problema [...] a política pública adquire característica positiva. Do contrário, se o governo decide não agir diante de algum problema público, a política adquire característica negativa (apud RODRIGUES, 2011, p. 43 – grifos da autora).

            Como um campo de conhecimento científico, podemos entender a Política Pública como a análise dessas ações governamentais (e não governamentais) e, quando necessário, propor mudanças no curso dessas ações. A formulação de políticas públicas constitui programas e ações (o que fazer), metas e objetivos (aonde chegar) e estratégias de ação (como fazer) que devem produzir resultados ou mudanças no mundo real. O planejamento de programas, ações, metas e objetivos constituem também objeto de estudo da própria Administração Pública, entendida como atividade do Estado que deve organizar o funcionamento dos serviços públicos prestados à sociedade.
            De acordo com Lowi “as políticas públicas determinam a política. Elas estruturam o sistema político, definem espaços e atores, e delimitam os desafios que os governos e as sociedades enfrentam” (apud RODRIGUES, 2011, p. 46 – grifo da autora).
           Considera-se que a área de políticas públicas contou com quatro grandes fundadores: H. Laswell, H. Simon, C. Lindblom e D. Easton. Foi Laswell quem introduziu

a expressão policy analysis (análise de política pública), ainda nos anos 30, como forma de conciliar conhecimento científico/acadêmico com a produção empírica dos governos e também como forma de estabelecer o diálogo entre cientistas sociais, grupos de interesse e governo (apud SOUZA, 2006, p. 23).

            Alguns locais no âmbito da esfera pública são fundamentais para o debate, negociação e o processo de formulação de uma política, dentre os quais podemos citar o Poder Executivo, o Poder Legislativo, Conselhos Gestores de Políticas Públicas, entre outros.
            No âmbito do Poder Legislativo temos o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e Câmara de Vereadores. Toda vez que uma política pública necessita de um substrato legal antes de sua execução ela terá que, necessariamente, passar pelo Poder Legislativo.
            O Congresso Nacional é hoje um exemplo de como algumas demandas são debatidas e discutidas em parceria com a sociedade, através dos portais da câmara e do senado, como os portais e-democracia (da Câmara dos Deputados) e e-cidadania (do Senado Federal). O Marco Civil da Internet é um bom exemplo a este respeito. Diante de um problema público (a falta de leis para punir pessoas que usam a internet para roubar dados, por exemplo), cria-se uma agenda de discussão política para elaborar alternativas e enfrentar os problemas que o mundo digital trouxe para a sociedade no século XX e XXI, e se formulam políticas legais que passam a incorporar o ordenamento jurídico brasileiro – o Marco Civil da Internet – que passa, portanto, a prevê penalidades para quem transgredir tais normas.
            A demanda teve como finalidade uma proposta de lei (que pode inclusive ser uma emenda constitucional) e se constituiu como uma peça de política pública, uma vez aprovada.
            Outro local de negociação importante é o próprio Poder Executivo. Onde atuam diferentes atores envolvidos com uma específica política pública: Ministérios, Secretarias, Profissionais de uma determinada área. Um exemplo de como o Poder Executivo apresentou uma demanda específica (e que teve que ser aprovada pelo Poder Legislativo) foi com a criação em 1996 do imposto CPMF, a partir do problema/necessidade de garantir maior aporte de recursos para a saúde. Essa lei foi objeto intenso de debates e discussão, como toda lei que prevê o aumento ou a criação de novos impostos.
            Outro local que pode ter uma contribuição importante no debate e elaboração de políticas públicas são os Conselhos Gestores de Políticas Públicas.
            Vários estudiosos e pesquisadores da área de políticas públicas chamam a atenção para o fato de como tais políticas devem ser construídas hoje com participação social, o que podemos chamar de Processos de Gestão Democrática.

A participação social é considerada importante elemento de gestão e componente fundamental para a elaboração das políticas públicas. As propostas do programa de governo são [ou devem ser] construídas a partir das demandas e necessidades da sociedade. Essas, na medida do possível, são incorporadas às políticas públicas (LAMBERTUCCI, 2009, p. 74).

            E foi a própria Constituição Federal de 1988 que abriu espaço, "[...] por meio de legislação específica, para práticas participativas nas áreas de políticas públicas, em particular na saúde, na assistência social, nas políticas urbanas e no meio ambiente” (AVRITZER, 2009, p. 29-30), seja através de plebiscitos, referendos e projetos de lei de iniciativa popular (art. 14, incisos I, II e III; art. 27, parágrafo 4º; art. 29. Incisos XII e XIII), seja através da participação na gestão das políticas de seguridade social (art. 194), de assistência social (art. 204) ou dos programas de assistência à saúde da criança e do adolescente (art. 227).

Algumas Ideias sobre Políticas Públicas


Políticas públicas governamentais são aqui entendidas como o “Estado em ação”. É o Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade.

“políticas públicas são resultantes da atividade política, requerem várias ações estratégicas destinadas a implementar os objetivos desejados [...] constituem-se de decisões e ações que estão revestidas da autoridade soberana do poder público” (RODRIGUES, 2011, p. 14).

“As políticas públicas repercutem na economia e nas sociedades, daí por que qualquer teoria da política pública precisa também explicar as inter-relações entre Estado, política, economia e sociedade” (SOUZA, 2006, p 25).

Para que as políticas públicas transformem uma sociedade é preciso: atores políticos com capacidade para diagnosticar e analisar a realidade social, econômica e política em que vivem, além de negociar de forma democrática com os diferentes atores envolvidos no processo. “Tudo isso envolve habilidades para gerenciar complexidades (em cenários de incertezas e turbulência, por exemplo) e conseguir colaboração de todos os que estão envolvidos na implementação de determinadas ações de governo” (RODRIGUES, 2011, p. 25).

“a eficácia das políticas públicas depende do grau de eficiência da gestão – o que, por sua vez, implica não apenas a qualidade dos gestores para exercer seu ofício público, mas também um ambiente de atuação que favoreça a governança democrática e a responsabilização política” (RODRIGUES, 2011, p. 24).

O Estado Democrático de Direito é o responsável por implementar Políticas Públicas que possa garantir a efetividade de tais direitos.

“Jogar o jogo da política democrática, ética, e da justiça social é o desafio que os gestores de políticas públicas têm de enfrentar para planejar, administrar e extrair recursos e formatar políticas redistributivas que busquem promover sociedades mais iguais e mais livres, num contexto mundial de profundas mudanças econômicas, demográficas e ideológicas” (RODRIGUES, 2011, p. 78).

Referências Bibliográficas


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RUA, Maria das Graças, (1998). As políticas públicas e a juventude dos anos 90. In: ____. Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. 2 vBrasília: CNPD, p. 731-752.
SCHNEIDER, Volker. Redes de políticas públicas e a condução de sociedades complexasCivitas – Revista de Ciências Sociais, v. 5. n. 1, p. 29-57, jan.-jun. 2005.
SECCHI, Leonardo. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análises, casos práticos. São Paulo: CENGAGE Learning, 2012.
SOUZA, Celine. Políticas Públicas: uma revisão da literaturaSociologias, Porto Alegre, ano 8, n. 16, jul/dez 2006, p. 20-45.
____. Políticas Públicas: Questões Temáticas e de PesquisaCaderno CRH 39: 11-24. 2003.



[i] Sobre os problemas e as possibilidades teóricas e empíricas da pesquisa em políticas públicas no Brasil, ver Faria (2003), Figueiredo e Figueiredo (1986), Melo (1999), Reis (2003) e Souza (2003).
[ii] Para abordagens que destacam o papel das ideias e do conhecimento neste processo temos o exemplo de pesquisadores como: Dunn (1994) Faria (2003), Melo e Costa (1995) e Pio (2001)
[iii] No artigo de Volker Schneider (2005) é possível encontrar ainda uma análise quantitativa de redes de políticas públicas tomando como exemplo a rede norte-americana do setor de energia, a rede alemã de políticas de controle químico e a rede de políticas públicas da reforma das telecomunicações alemãs, para o qual remetemos o leitor caso queira aprofundar a temática.